Como citar: PERFEITO, Rodrigo Silva; SOUZA, Wallace Machado Magalhães de; ALVES, Diego Gomes de Sá. Treinamento de força muscular para crianças e adolescentes - benefícios ou malefícios? Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, p. 54-62, abr/jun 2013

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Treinamento de força muscular para crianças e adolescentes: benefícios ou malefícios?

(Muscle strength training for children and adolescents: benefits or harms?)



Por:
Rodrigo Silva Perfeito1
 Wallace Machado Magalhães de Souza2
Diego Gomes de Sá Alves3

1. Graduado em Educação Física - Licenciatura pela UERJ; Graduando em Educação Física - Bacharelado pela UERJ; Graduado em Fisioterapeuta pela FRASCE; Especializando em Educação Física Escolar pela UERJ; pesquisador CNPQ do laboratório LISACEL – UERJ; diretor fundador do Instituto Fisart;

2. Graduado em Educação Física - Licenciatura pela UERJ; Graduado em Educação Física - Bacharelado pela UFRJ; Especializando em Ciências da Performance Humana pela UFRJ;

3. Graduando em Educação Física - Licenciatura pela UERJ; Graduando em Contabilidade pela FABEC
 
Resumo:
Introdução: Existe uma grande discussão na literatura quanto aos possíveis riscos ou benefícios do TF aplicado em crianças e adolescentes. Tal atividade, com cargas intensas, sempre foi empregada ao longo do tempo como um esporte, sendo seu público de maior incidência, homens adultos jovens ou de meia idade. Atualmente, o escopo atuante engloba também crianças e adolescentes. Acoplado ao novo público, surge também a preocupação com lesões e déficit de crescimento por altas cargas de estresse osteomioarticular por meio do TF em crianças. Metodologia: Trata-se de uma revisão de literatura do tipo analítica, em que utilizamos autores nacionais e internacionais para discorrer sobre os benefícios ou malefícios do TF para o grupo em questão. Objetivo: Trazer subsídios científicos que contribuíam para a tomada de decisão da adesão ou não do TF em crianças. Conclusão: Por fim, é possível concluir que o TF, se bem orientado, não traz qualquer risco a saúde ou crescimento de crianças e adolescentes.

Palavras chave: crianças; adolescentes; treinamento de força muscular;

Abstract:
Introduction: There is a great debate in the literature about the potential risks and benefits of TF used in children and adolescents. Such activity, with heavy loads, has always been used over time as a sport, and its public higher incidence among young adult men or middle-aged. Currently, the scope also includes active children and adolescents. Coupled with the new audience, there is also the concern about injuries and failure to thrive in high stress loads osteomioarticular through the TF in children. Methodology: This is a literature review of the analytical type, which we use in national and international authors to discuss the benefits or harms of TF for the group in question. Objective: Bringing scientific subsidies that contributed to the decision-making membership or not of TF in children. Conclusion: Finally, we conclude that the TF, if well directed, does not bring any risk to the health or growth of children and adolescents.

Keywords: children, adolescents, muscle strength training;

Introdução:
            Visivelmente ocorreram transformações na essência do treinamento desportivo para crianças e adolescentes. Antes, tínhamos a preocupação da inserção do sujeito no esporte como algo possibilitador de novas experiências, interação social, prática esportiva pelo divertimento, entre outros. Atualmente, possuímos escolinhas e clubes reivindicando de meninos e meninas ainda não desenvolvidos, crescidos e maturados, condicionamento físico e desempenhos comparados ao de atletas adultos de alto rendimento. A criança, em alguns momentos, é considerada em molde menor, uma réplica do adulto.
Dentre as diversas valências trabalhadas para o aprimoramento do desempenho nas mais variadas modalidades desportivas, o Treinamento de Força (TF) é considerado um dos principais componentes para o sucesso do atleta. Por este motivo, é estimado como um dos eventos precursores na vida desportiva de uma criança ou adolescente que está sendo preparada para atingir a vida esportiva de alto rendimento. Neste âmbito do alto nível, existe a exigência de performance cada vez mais precoce, fazendo-se necessário, o treinamento com altas intensidades para alcançar resultados cada vez mais satisfatórios.
    Para melhorar o desempenho de um atleta, a preocupação primária se apresenta no desenvolvimento da força. Utilizar vários métodos para seu desenvolvimento conduz a um rendimento maior, cerca de 8 a 12 vezes mais comparado a utilizar apenas capacidades disponíveis para certo desporto. Dessa forma, o TF é um dos mais importantes componentes do processo de formação dos atletas1.   
        A grande discussão presente nos estudos sobre o treinamento precoce em crianças e adolescentes é: o possível risco do crescimento ósseo anormal, afetando as epífises de crescimento, diversas lesões osteomioarticulares, principalmente as ligamentares, devido à constituição de tecidos ainda em desenvolvimento e maturação, e fatores que impedem o próprio treinamento, como por exemplo, a intensa utilização de fosfocreatina e uma atividade, que geralmente, se apresenta monótona2,3,4,5,6,7,8,9. 
             Sendo assim, o presente artigo tem como objetivo refletir sobre os efeitos da aplicação do TF em crianças e adolescentes, assim como, seus possíveis benefícios ou malefícios agudos ou a longo prazo.
            Abaixo, apenas a cunho de curiosidade, estão retratados exercícios para crianças em academia específica para o grupo em questão:
        



Metodologia:
            As informações coletadas através de referencial teórico nacional e internacional foram, em primeiro momento, agrupadas, formando o estado da arte, e em seguida, submetidas à ponderação com o desígnio de promover uma revisão de literatura que possibilitasse identificar possíveis efeitos positivos e/ou negativos do TF diante de crianças e adolescentes em pleno processo de Desenvolvimento, Crescimento e Maturação descritos por Malina10 e Malina e Bouchard11.
Para tanto, foram coletados no período de 10 de Setembro a 15 de Dezembro de 2012 artigos nas bases de dados MedLine, Scielo e Pubmed por meio dos descritores: treinamento de força para crianças, musculação para crianças e atividade física e crescimento nas línguas portuguesa e inglesa, além de livros sobre a temática. O critério de exclusão e inclusão dos textos foi estabelecido pela leitura dos resumos e verificação da relevância para nosso trabalho.

Definição de TF e Força:
            Força é a capacidade neuromuscular de extrapolar uma resistência externa, como por exemplo, de um halter; ou interna, como o peso do próprio corpo. A força máxima que um individuo pode produzir depende das características biomecânicas de um movimento – força de alavanca, o grau de participação de grupos musculares maiores – e a magnitude de contração dos músculos envolvidos, ou seja, a intensidade do impulso, o qual determina a quantidade de unidades motoras envolvidas no processo1. Força ocorre quando superamos ou sustentamos uma resistência exterior, estando ligada a técnica e a velocidade empregadas no ato3.
            TF é um elemento que possibilita a prevenção da osteoporose numa idade cronológica avançada propiciando o aumento da densidade mineral óssea7. É um treinamento que produz adaptações capazes de promover o aumento da força muscular através da utilização de cargas externas e internas6.
            Desta forma, é tudo aquilo que se apresenta de forma sistematizada e promove o ganho de força muscular. Tem ainda como consequência a prevenção de algumas doenças crônico-degenerativas, como a osteoporose, e transformações fisiológicas, anatômicas e biomecânicas nos tecidos osteomioarticulares. Pode ser realizado através de cargas advindas do próprio corpo ou em aparelhos específicos, como os encontrados em academias de musculação.
            De acordo com cada metodologia, existem diferentes graduações nas adaptações biológicas de crianças e adolescentes sedentários. Treinos aplicados através de aparelhos específicos propiciam ganhos de 13% a 30% da força11. Quando o treinamento é harmonizado com a individualidade biológica do praticante, tal rendimento pode chegar aos 40%4. Utilizando exercícios pliométricos, os resultados podem alcançar 8%8. É possível observar que em períodos considerados curtos – entre oito e doze semanas – existe um aumento de 30% a 50% da força11.

           
            TF e as adaptações biológicas em crianças e adolescentes:
            Ainda é muito discutida a questão do TF para crianças e adolescentes. O posicionamento da National Strength and Conditioning Association, da American Orthopedic Society for Sports Medicine, e da Academy of Pediatrics afirma que jovens podem se beneficiar com a participação em um programa apropriadamente prescrito e supervisionado6.
            Em relação aos ganhos de força, estudos apontam que, em crianças e adolescentes, esta adaptação está mais associada ao “aprendizado” e ativação neuromuscular aprimorada do que aos aumentos substanciais no diâmetro transverso dos músculos, haja vista a pequena quantidade de testosterona – hormônio responsável, dentre outras funções, pelo aumento de massa muscular – sintetizada durante a infância2,6,12.
Embora o TF não promova níveis significativos de hipertrofia em crianças, outras adaptações e benefícios podem ser gerados nos músculos, nervos e no tecido conjuntivo, tais como: mudanças no padrão de recrutamento das fibras musculares e no tecido conjuntivo, aperfeiçoamento da força, melhora no desempenho esportivo e prevenção de lesões2,6,13.
Além de influenciar diretamente no tecido muscular, o TF pode apresentar um efeito favorável na densidade mineral óssea em crianças e adolescentes de ambos os sexos, embora não se conheça um limiar mínimo de exercício que promova mudanças na saúde óssea6,13.

TF e possíveis lesões:                       
            Apesar dos possíveis efeitos positivos do TF através das adaptações biológicas no corpo humano, o risco de lesões agudas e crônicas, diante de um programa mal formulado, deve ser interpretado como existente.
            Para evitar lesões, o conjunto de exercícios para jovens não deve enfatizar cargas máximas ou submáximas, mas sim, sua técnica apropriada. Este cuidado é importante vide que diversas lesões ocasionadas pelos exercícios de força estão relacionadas a uma técnica não adequada, uso de cargas excessivas ou a falta de supervisão qualificada6,13.
Diante da necessidade de melhor entendimento, discorreremos resumidamente sobre algumas lesões agudas e crônicas:


            Lesões agudas:
            Distensão muscular: é a lesão aguda mais comum em crianças e adolescentes submetidas a um TF incorreto. As distensões podem ser o resultado de um aquecimento incorreto antes de uma sessão de treinamento, ou ainda, da tentativa de superar cargas elevadas para um determinado número de repetições. Esta última variável deve ser considerada um indicador e não um fator de obrigatoriedade6,14.
           
            Danos a cartilagem do crescimento: a cartilagem de crescimento está localizada, geralmente, em três locais: na placa epifisária, ou de crescimento; na epífise, ou superfície articular; e na inserção da apófise, ou inserção tendínea. Os ossos longos do corpo crescem em comprimento a partir das placas epifisárias localizadas em suas extremidades. Normalmente, devido às mudanças hormonais, as placas epifisárias solidificam-se após a puberdade. Posteriormente a solidificação, o desenvolvimento dos ossos longos e, portanto, o crescimento em altura não é mais possível. Na adolescência, a cartilagem da placa epifisária pode estar mais fraca que o osso devido as suas heterogenias de desenvolvimento. O crescimento das cartilagens nas inserções apofisárias dos principais tendões assegura uma sólida conexão entre tendão e o osso. Danos as inserções apofisárias podem causar dor e também aumentam o risco de separação entre o tendão e o osso, resultando numa fratura de avulsão. Os três locais de crescimento da cartilagem são mais suscetíveis à lesão durante o estirão de crescimento na adolescência, assim como ao aumento da tensão muscular em torno das articulações. Um treinamento que não respeite a maturação do jovem pode comprometer e danificar a cartilagem de crescimento6,15.
           
            Fraturas: as placas epifisárias em crianças e adolescentes são propensas a fraturas porque ainda não estão solidificadas e se apresentam mais fracas que o osso. Comumente, os casos de lesão óssea ocorrem durante exercícios com levantamento da carga sobre a cabeça e com intensidades próximas a máxima6.
            Os cuidados com a sobrecarga se fazem necessários ao relacionar o treinamento com o crescimento ósseo, pois este ainda não se encontra em sua formação final. Jovens que praticam atividade física sem controle de carga podem sofrer microtraumatismos na junção das unidades músculo-tendinosas ao osso. Durante esse período, músculos, tendões e ligamentos são de duas a cinco vezes mais fortes que suas inserções nos ossos, podendo resultar em inflamação ou lesão. Devemos evitar: a técnica incorreta na realização dos exercícios, ou seja, má execução motora e/ou excesso de sobrecarga para um determinado número de repetições; a ansiedade de alcançar altas cargas em pouco tempo, aumentando subitamente a intensidade, respeitando, dessa forma, a individualidade biológica; a especialização precoce, resultando em estresse mecânico sobre as estruturas músculo-tendinosas, ligamentosas e ósseas13.
           
Lesões lombares e lombalgia: a execução incorreta ou o excesso de carga no treinamento podem levar crianças e adolescentes a adquirirem o quadro de lombalgia, e em casos extremos, lesões discais. O uso da técnica correta e de cargas bem inferiores a máxima auxilia na prevenção destas desconformidades2,6,13.


Lesões Crônicas:
            Cartilagem de crescimento: em muitos casos, quadros álgicos em adolescentes e crianças são causados por osteocondrite – inflamação da cartilagem do crescimento – ou osteocondrite dissecante – separação de uma parte da superfície articular do osso –. Pequenas fraturas de avulsão da cartilagem de crescimento na inserção do tendão patelar em direção ao osso podem estar relacionadas à doença de Osgood-Schlatter. Embora preocupante esse tipo de lesão é bastante rara14,6.
           
            Lesões na região posterior de tronco: os adolescentes podem correr mais riscos do que os adultos quanto à espondilite – inflamação de uma ou mais vértebras – e para o estresse relacionado à dor6. 
            Além das injúrias citadas acima, a hiperlordose acompanhada por desvios na pelve pode ser ocasionada ou exarcebada com um treinamento incorreto. Durante o estirão de crescimento, adolescentes tendem a desenvolver a hiperlordose na coluna lombar. Vários fatores contribuem para esse problema, incluindo o crescimento acentuado da porção anterior dos corpos vertebrais e os músculos isquiotibiais tencionados, que forçam o quadril a assumir a posição antevertida. A lombalgia em adolescentes normalmente esta associada com a hiperlordose6,16. Devido a isso, o professor deve estar atento a esses detalhes durante a elaboração do programa de exercícios.
            O quadro de dor lombar relacionado ao TF pode ser diminuído com a realização de atividades que fortaleçam a musculatura abdominal e das costas. Tal adaptação biológica, ajuda na manutenção da técnica correta do exercício, o que reduz a tensão na região lombar. Cargas leves e moderadas, que permitam a realização de pelo menos 10 repetições, podem ser úteis na redução da incidência álgica6.

           
            TF e crescimento:
            Ainda existe muita discussão sobre os possíveis efeitos da atividade física no crescimento. O senso comum diz que algumas atividades, como a natação, favorecem o crescimento, enquanto outras, como a musculação e a ginástica olímpica, seriam prejudiciais para o crescimento longitudinal das crianças e adolescentes.
            Auxiliando nesta reflexão, existem indagações que relatam que enquanto o exercício físico moderado estimula o crescimento, o treinamento extenuante representa um estresse capaz de atenuá-lo, sendo esse efeito, resultante da intensidade e duração do treino do que propriamente do tipo de exercício praticado. Se por um lado existem dúvidas sobre a veracidade dos efeitos desses exercícios sobre a estatura final do indivíduo, por outro lado, é relevante a afirmativa de que o exercício físico pode induzir aumentos significativos do hormônio de crescimento (GH) na circulação sanguínea de crianças e adolescentes17. Por outro lado, o TF intenso parece acarretar um decréscimo nos níveis de IGF-1, sugerindo a redução ou atraso do crescimento, comprometendo assim, a estatura final18.
            A intensidade e a duração do treinamento influenciam mais do que o tipo de desporto praticado. Contudo, poucos pesquisadores relataram e controlaram a intensidade do treinamento – sobrecarga, número de repetições, aspectos biomecânicos, nível de dificuldade das habilidades, entre outros –, dificultando sobremaneira a compreensão da relação causa e efeito do treinamento sobre o crescimento17.
            Embora muito se especule quanto ao fato do crescimento ósseo ser potencializado pela prática de exercícios físicos, não foram encontrados na literatura científica específica estudos bem desenvolvidos que sustentem esse paradigma. O que podemos afirmar com ampla fundamentação é que as atividades esportivas adequadamente programadas e supervisionadas potencializam a densidade mineral óssea, particularmente durante a adolescência, quando o pico de massa óssea está por ser alcançado. Estudos apresentam a combinação de dieta rica em cálcio associada ao exercício físico, durante a adolescência, como recurso adequado para a maximização do pico de massa óssea e consequente redução do risco de osteoporose futura14.
            Deve-se salientar que, por vezes, a própria seleção esportiva recruta crianças e/ou adolescentes com perfis de menor estatura como estratégia para obtenção de melhores resultados em função da facilidade mecânica dos movimentos14.

Recomendações para o TF em crianças e adolescentes:
            Um treinamento para jovens bem organizado e supervisionado pode ser realizado em até 20 minutos por sessão de treino. Durante o período inicial, para crianças de 8 a 10 anos, a frequência semanal de 2 sessões pode trazer ganhos significativos de força e mudanças na composição corporal. Além disso, nesse período, um número maior de repetições (13 a15) por série pode produzir importantes ganhos na força e resistência muscular localizada, comparado com número de repetições menores (6 a 8) por série6.
            Assim como em adultos, as crianças e adolescentes podem obter mudanças significativas na força e na composição corporal por meio de programas de baixo volume e de séries únicas. Por isso, o programa deve ser composto, em seu início, por uma série de aproximadamente 13 a 15 repetições, com pelo menos um exercício para os principais grupamentos do corpo. Conforme o jovem se desenvolve, cresce e matura, programas mais avançados podem ser gradualmente introduzidos. Entretanto, a National Strength and Conditioning Association (NSCA) recomenda que cargas muito intensas sejam controladas, utilizando no máximo, 5 a 6 RMs6.
            A tabela a seguir apresentará uma progressão de exercícios dos 5 aos 18 anos. O programa de TF deve ser realizado em condições favoráveis, tanto para segurança quanto para o divertimento da criança e adolescente. Vale ressaltar, que são informações sugestivas e que de maneira alguma, substituirão a avaliação e coleta de dados mediante o professor de Educação Física.

Tabela: Orientações básicas para a progressão de exercícios de força para crianças e adolescentes
Idade (anos)
Considerações
5 - 7
Prescreva exercícios básicos com pouco ou nenhum peso; desenvolva o conceito de uma sessão de treinamento; ensine as técnicas do exercício; progrida de exercícios calistênicos com peso do corpo para aqueles com parceiros e cargas leves; mantenha o volume baixo.
8 - 10
Aumente gradualmente o número de exercícios; inicie o incremento gradual e progressivo da sobrecarga; mantenha os movimentos simples; aumente o volume lentamente; com cuidado, monitore a tolerância ao estresse do exercício.
11 - 13
Ensine todas as técnicas básicas do exercício; continue progressivamente aumentando a sobrecarga; enfatize a técnica; introduza movimentos mais avançados com pouca ou nenhuma carga.
14 - 15
Progrida para programas com exercícios de força mais avançados; inclua componentes específicos do esporte; enfatize as técnicas; aumente o volume.
16 ou mais
Entre no nível inicial de programas para adultos depois que toda a experiência anterior tenha sido obtida.

Adaptado de: FLECK, S; KRAEMER, W. Fundamentos do Treinamento de Força Muscular. 3. ed. Porto Alegre: Artimed, 2006.


Recomendações do ACSM para aptidão física na infância e na adolescência:
Em informações do American College of Sports Medicine (ACSM) a aptidão física para crianças e adolescentes deve ser desenvolvida como primeiro objetivo de incentivo à adoção de um estilo de vida apropriado com prática de exercícios por toda a vida, com intuito de desenvolver e manter o condicionamento físico suficiente para melhoria da capacidade funcional e da saúde19.
            Programas de Educação Física em escolas são parte importante do processo geral de educação e devem ser incentivados para desenvolver e manter hábitos de prática de exercício ao longo da vida e prover instruções sobre como adquirir e manter uma aptidão física adequada. A quantidade de exercício necessária para uma capacidade funcional adequada para a saúde nas variadas idades não foi precisamente definida. Até que evidências definitivas estejam disponíveis, as atuais recomendações são que crianças e adolescentes realizem 20-30 minutos de atividade física vigorosa ao dia. Aulas de Educação Física normalmente dedicam algum tempo para instruções sobre a prática das atividades, mas o tempo de aula é geralmente insuficiente para desenvolver e manter condicionamento físico adequado. Por isso, programas escolares também devem focar mudanças na educação e no comportamento para incentivar o engajamento em atividades apropriadas fora das aulas. O aspecto lúdico no exercício deve ser enfatizado19.
            Programas educacionais projetados para aumentar o conhecimento e o reconhecimento do papel e valor do exercício na aptidão física e saúde são virtualmente inexistentes em escolas, embora tais programas sejam comuns em universidades. Esforços profissionais são necessários para desenvolver, testar e publicar materiais educativos adequados para o uso em escolas. Programas de treinamento precisam ser desenvolvidos e iniciados para proporcionar professores com conhecimentos e habilidades para ajudar os alunos a atingir qualidades cognitivas, afetivas e comportamentais associadas ao exercício, saúde e condicionamento. Os docentes também precisam dar assistência nas formas de integrar outros aspectos da promoção da saúde – boa nutrição, por exemplo – nas instruções sobre exercício e aptidão física. Os componentes educacionais de avaliar, ensinar atividades de condicionamento físico e reconhecimento através de premiação devem ser complementares e precisam ser coordenados para um programa compreensivo19.
           
Considerações finais
            O TF pode ser benéfico para crianças e adolescentes, desde que as devidas precauções sejam adotadas. A utilização de cargas elevadas e posturas incorretas na realização dos exercícios devem ser evitadas, pois aumentam os riscos de lesões e desestimulam a prática da atividade física. Intensidades leves a moderadas e a técnica correta dos exercícios devem ser priorizadas, evitando desta forma, o risco de evasão diante de seus diversos motivos.
             Alguns dos benefícios do TF em jovens são: aumento da força, melhora da coordenação motora, aumento da densidade mineral óssea e prevenção de lesões. Prejuízos no crescimento longitudinal são apenas observados quando a intensidade do exercício é extremamente alta. O TF estimula a síntese do hormônio GH, favorecendo o crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes. Atua também, como um componente importante na aquisição de maior rendimento em jovens atletas, nas mais diversas modalidades, contribuindo para melhores resultados.
            Diante das diversas pesquisas, como as retratadas neste trabalho, ao que parece, mesmo quando a atividade é exercida com altas cargas, porém sistematizado, não há riscos de lesões e tão pouco afeta o crescimento de jovens, como no exemplo do famoso “pequeno Hércules” Richard Sandrack que cresceu normalmente mesmo com níveis altíssimos de treinamento, que na época, foi muito contestado por arriscar o crescimento normal do jovem.

    


Assim, em linhas finais, o papel do professor de Educação Física é orientar e elaborar programas de treinamento de forma segura, que ao mesmo tempo, promovam benefícios sem ausentar os aspectos lúdicos que toda atividade voltada para crianças deve ter, favorecendo que estes, quando adultos, adotem um estilo de vida saudável.

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