Como citar: PERFEITO, Rodrigo Silva; PIMENTA, Diego dos Santos. O jogo e a brincadeira como ferramenta pedagógica para o professor de Educação Física no desenvolver psicomotor, afetivo e social de crianças. Revista Carioca de Educação Física, n. 7, 2012.




O JOGO E A BRINCADEIRA COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA PARA O PROFESSOR  DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO DESENVOLVER PSICOMOTOR, AFETIVO E SOCIAL DE CRIANÇAS 

Rodrigo Silva Perfeito1
Diego dos Santos Pimenta2

1 – Graduado em Educação Física – Licenciatura (UERJ); Graduando em Educação Física –
Bacharelado (UERJ); Graduado em Fisioterapia (FRASCE); Pós Graduando Lato Sensu em
Educação Física Escolar (UERJ); rodrigosper@yahoo.com.br

2 - Graduando em Educação Física – Licenciatura (UNISUAM); diego_spimenta@yahoo.com.br


      Resumo 

A estimulação corporal através de atividades físicas, seja por meio de brincadeiras e/ou jogos, tem vital importância para o desenvolvimento global da criança, influenciando em diversos aspectos, como: habilidades psicomotoras, coordenação, relação espaço temporal, visão periférica e equilíbrio físico. Durante o brincar ou jogar, estimulamos a imaginação, criatividade, emoções e sentimentos, além do autoconceito corporal, possibilitando uma nova postura com relação ao entender o corpo e o ambiente. Para retratar tais afirmativas, utilizamos dois subcapítulos, denominados: os jogos e o desenvolvimento psicomotor das crianças e o jogo, a brincadeira e o desenvolvimento afetivo social. Por fim, é possível concluir que os jogos e brincadeiras, quando bem planejados, podem estimular a integração dos aspectos sociais, afetivos e motores das crianças, por meio da afetividade, imaginação e simbolização do jogar e brincar e da vida em sociedade, possibilitando desse modo, seu desenvolvimento global. 

Palavras chave: Jogos, brinquedos, desenvolvimento global, Educação Física Escolar. 

     
      Abstract 

Stimulation body through physical activity, whether through play and / or games, is vital to the overall development of the child, influencing many aspects, such as psychomotor skills, coordination, spatial relation temporal peripheral vision and physical balance. During play or play, stimulate imagination, creativity, emotions and feelings, and body self-concept, enabling a new stance on understanding the body and the environment. To portray such statements, we use two subchapters, namely: the games and psychomotor development of children and play, play and social emotional development. Finally, we conclude that the games and activities, when well designed, can stimulate the integration of social, affective and motor of children, through affection, imagination and symbolization of play and play and life in society, enabling them so, their overall development. 

Keywords: Games, toys, global development, Physical Education. 



     Introdução 

     Para que ocorra uma aprendizagem significativa, o processo educacional deve advir por meio da progressão pedagógica, evoluindo até alcançar atividades mais complexas. Uma maneira de estimular esse desenvolvimento é através da expressão motora. Assim, desde seus primeiros anos de vida, o indivíduo deve ser excitado a se auto reconhecer e ao seu ambiente através de movimentos proporcionados pelo brincar e jogar. Por exemplo, a utilização da pegada com as mãos em algum brinquedo pode refletir numa futura maior habilidade com a escrita. 
      Assim, além de estímulos ocorridos em ambiente familiar, é de grande valia, que o professor de Educação Física, utilize jogos e brincadeiras diversificadas que introduzam valências psicomotoras, afetivas e sociais, auxiliando no desenvolvimento global do aluno. 
       Permitindo também, que o mesmo possa ultrapassar e entender suas próprias dificuldades e a dos outros. 
      Porém, a atividade desconstituída de sistematização pedagógica, não trará resultados satisfatórios. Devemos pensar, por exemplo, nas classificações comportamentais típicas de crianças em conflito, desenvolvida por Reinert (1976), que são: o comportamento de “acting-out”, comportamento de afastamento, comportamentos defensivos e comportamentos desorganizados, auxiliando na compreensão de algumas atitudes empregadas pela criança. 
      Atualmente, existe uma epidemia mundial de obesidade infantil. São criados diversos programas de atividade física para minimizar seus danos a saúde. No entanto, existem diversos fatores negativos que afetam para além do físico. É importante que o docente compreenda que suas atividades devem impulsionar também, sentimentos positivos sobre a imagem corporal das crianças que sofrem perturbações emocionais, como o bullying. Diante de pesquisas de Auxter et al. (1967) foram constatadas influencias favoráveis, por meio de atividades físicas bem elaboradas, onde o autoconceito de pessoas cognitivamente atrasadas foi afetado positivamente. 
     Agregando as inserções de Vygotsky (1989) e pensando em nossa cultura popular, é sugestivo afirmar que o jogo e/ou a brincadeira, são importantes ferramentas de conhecimento de vida e de manifestação da cultura. Mesmo em um momento atual de globalidade, onde crianças ficam restritas a estímulos advindos apenas de seus quartos sem um acesso mais amplo a outros mundos, através de atividades lúdicas e estímulos motores, poderá se desenvolver nas diferentes esferas da vida. 
      Para refletirmos mais concretamente sobre essas informações, a seguir, serão discutidos dois subcapítulos que terão como objetivo geral a explanação dos jogos e brincadeiras como auxiliadores do desenvolvimento infantil. De forma específica, relataremos algumas influências no desenvolver afetivo, motor e social. 


       Os jogos e o desenvolvimento psicomotor das crianças 

    Nesse subcapítulo estaremos discutindo como os jogos desenvolvem o sistema motor e psicológico das crianças, sendo fundamental como ferramenta de ensino na Educação Física Escolar. Assim, iremos estudar como o corpo e os jogos se comportam nessa trama. 
      Através de estímulos corporais, é possível desenvolver o Sistema Nervoso Central (SNC), que por sua vez, é responsável pela coordenação, comunicação entre os sistemas e suporte às funções cognitivas. Portanto, a imagem corporal de um bebê amadurece aos poucos, na medida em que o mesmo experimenta estímulos do ambiente, como o toque, a exploração do espaço, a manipulação e contato com objetos e suas cores. Inicialmente, a criança não consegue separar e distinguir seu corpo dos demais corpos animados ou inanimados. Através de sua maturação, crescimento e desenvolvimento, gradativamente, compreende que seus movimentos são diferenciados dos demais objetos (LE BOULCH, 1985). 
       Assumindo a importância da estimulação corporal para o desenvolvimento global do indivíduo, é necessário explanar também sobre as habilidades psicomotoras, que incluem: a resistência à fadiga, a visão periférica, o equilíbrio físico, a destreza manual e digital, a coordenação mãos e olhos, entre outros. A escrita é, enquanto conjunto dos movimentos coordenados, excelente exemplo destes aspectos. Desta forma, valências psicomotoras do comportamento da criança podem constituir condições para o desenvolvimento de determinados aspectos cognitivos. Somados ambos os estímulos, podem ainda, determinar aspectos positivos ou negativos quanto ao desenvolvimento afetivo social. Da mesma maneira, em caminho inverso, as condições emocionais desfavoráveis, podem prejudicar o desenvolvimento psicomotor e cognitivo (CHATEAU, 1987). Em complemento, uma das maneiras de estimular tais desenvolvimentos citados, seria através do jogo: 

O jogo põe em função, de maneira extremamente variada, todas as possibilidades da criança: força muscular, flexibilidade das articulações, resistência ao cansaço, respiração, precisão de gesto, habilidade, rapidez de execução, agilidade, prontidão de resposta, reflexos, equilíbrio, etc (JACQUIN, 1963). 

     Portanto, o jogo se torna atividade fundamental no desenvolvimento infantil e deve ser trabalhado na escola pelo professor de Educação Física. Bandet e Sarazanas (1972) fizeram várias observações sobre a versatilidade dos jogos: 

     1- O jogo tem um poder de integração, ampliando o entender de mundo. Propicia ao sujeito ser mais curioso e pronto para intervir diante de problemas. Permite transformar o mundo à sua maneira; 
      2- Através das descobertas, o corpo humano, se torna o primeiro jogo da criança. É um campo de novas descobertas. Após descobrir o corpo da mãe, passa a entender seu próprio corpo através de testes no ambiente; 
      3- Existem diversos tipos de jogos. Os de ficção são importantes para trabalhar as representações de vida. Brincadeiras de faz de conta seria um exemplo; 
      4- Os jogos de aquisição são importantes para o aprendizado, existindo diversos que se adéquam a cada faixa etária. Existem inúmeros jogos que sumulam a aquisição de bens, como na vida fora atividade; 
     5- Os jogos de fabricação também possuem papel fundamental na vida social, pois auxiliam na criatividade e no raciocínio estratégico; 

     Há relações entre a atividade intelectual e motora que possibilitam a conversa entre uma e a outra. A primeira pode ser considerada decorrente da segunda e a segunda influenciada pela primeira (LEGRAND, 1974). No entanto, a maturação é fundamental para que essa homogeneização ocorra, sendo pertinente a estimulação motora primeiramente. Isto ocorre, pois nos primeiros anos da infância, o cérebro apresenta uma viscosidade mental, que torna impossível o funcionamento intelectual autônomo. “Na criança, sem ação motora ou verbal, a ideia necessita de vigor para se formar ou para se manter” (WALLON, 1941). Assim, a Educação Infantil deveria “fazer agir antes de fazer falar” (LEGRAND, 1974). 
      Com o passar dos anos e com tal pensamento aflorado, foram elaboradas uma grande variedade de atividades e jogos para ajudar crianças da Educação Infantil a desenvolver suas habilidades motoras e afetivas, facilitando a transição para o ensino fundamental. O método objetiva promover autoconfiança e segurança através das atividades propostas (TAETZSCH & TAETZSCH, 1974). 
     Nem sempre, a proposta é facilmente transcursada na pratica, vide que em uma turma heterogênea, existe uma grande dificuldade de se ajustar atividades para as especificidades e capacidades de cada criança. O maior problema do desenvolvimento psicomotor para o docente é o de compreender e ajustar a atividade física às capacidades e proporções corporais, afetivas e intelectuais dos discentes (HARROW, 1972). Assim sendo, a educação psicomotora deve ser pensada em função dos problemas apresentados por cada aluno e não em função dos métodos existentes (VAYER, 1989). 
    Se trabalhadas de modo correto, as atividades se apresentam como uma forma de autoconhecimento e de corpo informativo. É no jogo que a criança revela seu estado cognitivo, visual, auditivo ou tátil-motor; é através do jogar, seu modo de aprender, de interagir e de entrar numa relação cognitiva com o mundo, eventos, pessoas e símbolos (FRANK, 1958). 
      Uma criança aos seis anos de idade, já deve possuir um maior desejo de aprender e se desenvolver. Algumas competências e comportamentos devem se destacar nessa época, como: a motricidade – correr, agir, sentar, saltar –, a atenção – ver, escutar, observar –, a linguagem – contar, falar, expressar –, e a inteligência – analisar, compreender –. Muitos jogos realizados espontaneamente permitem o desenvolvimento e o alcançar de tais objetivos e competências (BOURCIER, 1971). 
      Uma educação psicomotora sustentada em pressupostos da prevenção de dificuldades pedagógicas deve atribuir importância a expressão pelo corpo buscando o desenvolvimento global da pessoa. Se o principal papel da escola é o de preparar seus alunos para a vida ou sociedade, é preciso que a educação seja sistematizada, empregando métodos pedagógicos que campeiem ajudar a criança a se desenvolver da melhor maneira possível, contribuindo, dessa forma, para uma adequada formação da vida social (LE BOULCH, 1985). O jogo ou a brincadeira são ferramentas exemplares para o dado objetivo. 


O jogo, a brincadeira e o desenvolvimento Afetivo Social 

     Já nesse subcapítulo, buscaremos subsídios na revisão de literatura para discutir o jogo como ferramenta de desenvolvimento afetivo e social, atrelados à educação. 
     Existem diversos aspectos emocionais indesejados e identificados como agressores do processo ensino/aprendizagem, como: autoconceito nulo ou de descrédito, ansiedade e conflitos de identidade afetiva. Estas características, se manifestadas, podem representar obstáculos à aprendizagem. Uma criança em conflito é aquela cujo comportamento manifesto tem sintoma deletério no seu desenvolvimento pessoal ou educacional. Os efeitos não desejáveis podem variar consideravelmente de uma pessoa para outra em termos de gravidade e prognóstico (REINERT, 1976). O autor classificou e destacou alguns dos comportamentos típicos de crianças em conflito: 

- Comportamentos defensivos ou de defesa: a criança passa a mentir, evitar tarefas que acredita ter probabilidade de errar, entre outros; 

- Comportamentos desorganizados: devido a sua insegurança com sua identidade social e corpo, passa a apresentar características como: desatenção e afastamento da realidade, autismo; 

- Comportamento de “acting-out”: nesse grupo, o indivíduo passa a adotar comportamentos 
que visam a desordem, agressão e atrito, em estabelecimentos ou com os outros; 

- Comportamento de afastamento: a criança regride em seu desenvolvimento motor e intelectual, apresentando atitudes como: chupar o dedo, movimentar somente partes do corpo que não podem ser analisadas pelos outros, evitando movimentos amplos e por fim, deixa de usar a linguagem corporal e oral; 

     Tal classificação serve apenas como recurso para ajudar a encontrar soluções para o enfrentamento de problemas apresentados e sua identificação. Os conflitos relatados por Reinert (1976) podem ser associados a questões de identidades sociais, como poderemos presenciar a seguir. 
     Quando um indivíduo sofre preconceitos através de um sinal ou signo de descrédito, recebe informações negativas a todo o momento na sociedade, moldando sua identidade social e virtual, fazendo com que realmente se sinta uma pessoa incapaz e indesejada (PERFEITO, 2011a). Uma das possíveis estratégias para se modificar o quadro relatado, é a educação através do jogo e do lúdico, já que estes têm o poder de aproximar atividade e realidade ou vida real, proporcionando, através do divertido, o adentrar no mundo construído por regras e respeito ao outro (PERFEITO, 2011b). 
     Em complemento, os recursos existentes para auxiliar na resolução de tais problemas pode advir dos jogos terapêuticos e da ludoterapia. O primeiro é a estruturação de atividades lúdicas de tal forma que se obtém o máximo de benefícios para melhorar a prontidão da pessoa para outros jogos e atividades escolares. Já a ludoterapia, é um tratamento através do lúdico ou divertimento, que também pode ser aplicado na escola (REINERT, 1976). 
     O brinquedo ou jogo são moldadores do ambiente. A paz fornecida pela atividade solitária ou em presença de um adulto simpático ou de outra criança, irradia por algum tempo, pelo fato dos participantes encontrarem no ambiente uma fonte de reconhecimento e de afeto, fatores necessários para a cura psicológica. Portanto, o jogo ou brincadeira podem ser considerados recursos autoterapêuticos de extrema importância (ERIKSON, 1943). 
      Nesse aspecto, os jogos e brinquedos empregados na área educacional, objetivam promover um melhor equilíbrio emocional dos alunos. Apesar de existirem a anos, somente depois de algum tempo de sua existência foram estudados na vertente do assunto aqui tratado. Após as pesquisas, foi constatado que o método conhecido como educativo-terapêutico, consiste em um modo de “tratar” educativamente crianças difíceis dentro do âmbito normal da educação, por meio de conversação, encorajamento, jogos, etc (HENZ, 1970). 
      Atividades recreativas e físicas, se bem conduzidas, podem influenciar positivamente vários aspectos afetivos e sociais das crianças. Possibilitam, por exemplo, a alteração da imagem corporal do indivíduo com perturbações emocionais. O autoconceito de pessoas mentalmente atrasadas, também pode ser afetado positivamente por atividades físicas (AUXTER et al., 1967). 
       Através da análise do jogo, foi percebido há muito tempo atrás, que podemos alcançar ganhos pessoais e intrínsecos de nossos alunos. “[...] filósofos de Platão a Sartre notaram que as pessoas são mais humanas, integradas, livres e criativas quando elas jogam” (CZIKSZENTMIHALYI & BENNETT, 1971). 
       O jogo, por meio da manipulação simbólica do ambiente, contribui para desenvolver um go mais forte naquele que está realmente jogando, ou seja, inserido totalmente na atividade. É possível ainda, desenvolver a moralidade autônoma (PIAGET, 1994). Assim, quando bem organizado, é uma das mais construtivas e úteis experiências para o Ser humano. Nas atividades propostas, dependendo da faixa etária, o lúdico inserido no jogo é fundamental para a vida na sociedade (RASAMILHA, 1979). 
      Em defesa da construção cognitiva através dos jogos e brincadeiras bem planejados pelo professor de Educação Física, Vygotsky (1989), relata que: a imaginação cognitiva não se constitui somente em uma série de combinações possíveis a partir de elementos e imagens já existentes anteriormente, ou seja, a construção cognitiva depende de estímulos adequados nas faixas etárias recorrentes e não somente da maturação simplesmente ocorrida; pois se assim fosse, reduziríamos a imagem a outras funções psíquicas, como a memória; e a atividade de imaginar seria apenas o reproduzir ou recordar o passado (VYGOTSKY, 1989). 
       A imaginação cognitiva tem como base a atividade criadora e se manifesta em todas as esferas da vida cultural, permitindo a criação artística e científica, assim como o espírito criativo nas atividades propostas e na vida, como um todo (VYGOTSKY, 1989; CAMERON, 1998). O poder de simbolizar é o que diferencia o Homem das demais espécies animais. Sua capacidade de imaginação e simbolização, o possibilita produzir sentidos que articulam sua vivencia social e cultural compondo sistemas de normas, valores e crenças de diferentes sociedades. A imaginação foi por muito tempo relegado pela ciência, que creditava unicamente à razão a primazia da verdade, provocando, assim, a fragmentação constitucional do Homem (CASSIRER, 1994; CAPITONI e COSTA, 2000). 
     Ao observar as formas de imaginação relacionadas com a criatividade, orientadas para 
a realidade, vemos que a fronteira entre o pensamento realista e a imaginação se apaga, que a imaginação é um momento necessário, inseparável do pensamento realista (VYGOTSKY, 1989). 
     Ao sustentarmos o discurso de que o jogo e o brinquedo estimulam, além da motricidade, a cognição, os mesmos podem ser considerados uma importante fonte de promoção do desenvolvimento. Em etapas da infância, não há limite estruturado entre a realidade e a imaginação. Embora relatados com maior abundância os jogos de faz de conta, é sabido que mesmo naqueles que possuem regras rígidas, a imaginação também é trabalhada como criação de estratégias para vencer. A representação, para o jogo ou para vida, possui como base, a atividade de criar e reproduzir seus efeitos de forma cultural, estimulando a criação artística e científica (VYGOTSKY, 1989). 
      Pela brincadeira, a criança aprende a operar com significados e sentidos culturais sua realidade. Por meio de uma situação imaginária, encontra a forma de satisfazer seus desejos imediatos não realizáveis, criando então, uma área de desenvolvimento proximal, zona essa, responsável por novos aprendizados que ficam subentendidos. Pela atividade, o participante se lança para além de suas capacidades, pois a situação imaginária, fundamento do brincar, impulsiona processos de desenvolvimento (CAPITONI e COSTA, 2000). 
     Numa brincadeira em que é o ator principal ou protagonizador, a criança constrói, por meio de uma situação real/imaginária, seu contexto de vida, e não apenas reproduz a realidade sociocultural na qual está inserida. Isso ocorre, pois manipula simbolicamente seu contexto, expressando e transformando o ambiente através da atribuição de sentidos e significados. Portanto, o brinquedo trabalha a imaginação, criatividade, fantasia, emoções e motivação (VYGOTSKY, 1989). 
     Por fim, estabelecendo que a imaginação possua estreita ligação com as emoções, é importante que o professor entenda o jogo como atividade e o que está por trás do mesmo, que são: a imaginação, a cognição, a afetividade, entre outros (VYGOTSKY, 1989). 

      Metodologia 

     Trata-se de uma revisão de literatura através de artigos científicos e, em maior abundância, livros nacionais e internacionais sobre a temática publicados entre os anos de 1941 e 1989, com algumas exceções, com o intuito de retratar como era entendido o desenvolvimento infantil através de jogos, brincadeiras e ludicidade. 
      Após seleção do material, os mesmos foram fichados e selecionados a fim de melhor representar o corpo referencial. Diante de autores consagrados, foram adotados, em grande maioria, obras na língua francesa e inglesa, respeitando as escrituras originais e evitando transcrições errôneas. 
      Por último, em presença de todo o material, estes foram conflitados e selecionados para construção do presente estudo. 


     Considerações finais 

     A utilização de brincadeiras e jogos é vastamente debatida por diversos autores. Geralmente, traçando relações entre o emocional, motor e social de crianças de diversas faixas etárias. Apesar da temática exaustivamente já debatida, nosso trabalho se justifica na facilidade em alcançar as referências bibliográficas, e tem sua relevância diante da importância aqui atribuída pelos autores, na possibilidade e necessidade de manipular a atividade conforme as carências especificas do aluno ou do grupo inseridos nas aulas de Educação Física Escolar, propiciando um melhor desenvolvimento e inserção a sociedade pós escola. Além disso, quando o docente entende a importância do jogo e da brincadeira, poderá auxiliar crianças que possuem distúrbios motores, mentais, emocionais e/ou estresses familiares. 
     Em diferentes regiões do Brasil utilizamos a mesma brincadeira ou jogo, mesmo que de odo característico, para trabalhar movimentos variados e com isso estimular a progressão motora. Além do pensamento motor, muito recorrente nos trabalhos científicos, o professor deve estimular seu aluno através de atividades imaginárias também. As brincadeiras cantadas, por exemplo, podem instigar a integração das crianças, aguçando assim, a afetividade, a imaginação e o simbolismo, fundamentais para uma vida em sociedade. 
     Organizar as atividades por parte do professor de Educação Física, não é algo simples. Devemos ter em mente, que toda conquista não é tida em apenas uma aula, mas sim, em uma progressão a ser planejada por periodizações previamente estipuladas e embasadas cientificamente. Para resultados relevantes em nossa educação, o docente necessita realizar um acompanhamento coletivo e individual do seu grupo trabalhado, estimulando resultados apontados para o desenvolvimento e agregação de valores. Os jogos e brincadeiras, podem ser uma ferramenta para o alcançar de tal objetivo. 
     Finalizando nosso trabalho, deixamos claro que como limitação de estudo, temos um texto redigido em linhas gerais. É importante que ocorram pesquisas que se preocupem em comparar considerações de autores das décadas de 60, 70 e 80 com os publicados na atualidade, além do conflito de outras ferramentas com os jogos e brincadeiras, para assim, averiguar outras possibilidades, que possivelmente, se apresentem melhor ou pior no desenvolver infantil global nas diversas faixas etárias. 



     Referências 

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American corrective therapy journal, 1967. 

BANDET, J; SARAZANAS, R. L´enfant et lês jouets. Tournai: Casterman, 1972. 

BOURCIER, A. Traitment de la dyslexie. Paris: ESF, 1971. 

CAMERON, J. Criatividade: a mina de ouro: seja criativo e conquiste seu espaço. 2.ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998. 

CAPITONI, C; COSTA, V. Vivendo o Lúdico na Educação Física Escolar: uma abordagem sócio-histórica. In: FERREIRA, C. Psicomotricidade: da educação infantil à gerontologia - Teoria e Prática. São Paulo: Lovise, 2000. 

CASSIRER, E. Ensaio sobre o Homem: introdução a uma filosofia da cultura humana. São Paulo: Martins Fontes, 1994. 

CHATEAU, J. O jogo e a criança. São Paulo: Summus, 1987. 

CZIKSZENTMIHALYI, M ; BENNETT, S. An exploratory model of play. American Antrpologist, 1971. 73 (1): 45-58. 

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PERFEITO, R. A Educação Física e o Bullying: a desutilização da inteligência. Rio de Janeiro: Livre expressão, 2011a. 

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ROSAMILHA, N. Psicologia do Jogo e Aprendizado Infantil. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1979. 

TAETZSCH, S; TAETZSCH, L. Preschool games and activities. Belmont: Fearon, 1974. 

WALLON, H. L´evolution psychologique de l´enfance. Paris: A Colin, 1941. 

VAYER, P. A integração da criança deficiente na classe. São Paulo: Manole, 1989. 

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