Como citar: 

PERFEITO, Rodrigo Silva. Entrevista com Rodrigo Silva Perfeito: A Educação Física e o Bullying. Revista Negócio & Fitness. 31. ed. Dez, 2012. Disponível em: <http://www.fisart.com.br/2017/09/artigo-entrevista-para-revista-negocio.html> Acesso em: 00/00/0000


Entrevista para a revista Negócio & Fitness em Dezembro de 2012 (Edição 31)


           
1) Como surgiu a ideia de fazer o livro “A Educação Física e o Bullying?

          Desde meu ingresso ao ensino público, convivi com todos os problemas educacionais possíveis em uma escola. Um desses fenômenos era a violência em suas esferas sociais, físicas e psicológicas. No entanto, o despertar para o tema veio durante o curso de graduação em Educação Física na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Via esta instituição como um local de deuses, e quando adentrei, percebi que o curso de Educação Física era um recinto desprezível, com futuros professores que permeavam o preconceito de uma maneira tão natural, que quase me fez largar a faculdade. Enquanto me incomodava, fui tentando buscar formas de combatê-lo. Como sozinho nada pude fazer, o livro surgiu como uma silueta para fazer atentar a temática em todos os estratos da sociedade, desde a escola à universidade.

           2) O que leva a uma pessoa a estigmar e ridicularizar outra pessoa?

          Essa é uma pergunta que não tem resposta. Estigmatizar é fazer visíveis os signos de descrédito do outro, atribuindo-o um estigma. Porém, por mais que alguns autores digam que o bullying visa o divertimento do agressor e daqueles que assistem, este é um fenômeno complexo demais para uma simples explicação. Quando extrapolamos aos olhos esses signos, tentamos atingir simbolicamente aquilo que fere o outro, por meio do físico ou falado, que cria um imaginário social construído por ideais, culturas, emoções, entre outros, moldando por si os comportamentos sociais. Em outras palavras, podem existir inúmeras causas para o preconceito, e estas, por sua vez, representarem diferentes conceitos de um indivíduo para o outro, vide que o preconceito é uma construção social que se inscreve também em disparidade de acordo com as vivências.

         3) Como detectar que um aluno está sofrendo bullying?

       Existem alguns eventos que acusam o bullying e é dever do educador perceber isso. Quando sofremos constantemente episódios estigmatizantes, alteramos nossa identidade social virtual relatada por Erving Goffman. Isso fará com que o aluno estigmatizado crie alternativas para minimizar os estragos ou as ocorrências da violência. Exemplos seriam: se isolar, evitando amizades novas e consequentemente, a possibilidade de mais uma pessoa reconhecer seus signos de descrédito; o disfarce do estigma, como ao invés de usar óculos, preferir uma lente, já que será quase imperceptível sua valha visual; a remoção dos sinais, onde esse mesmo aluno faria desesperadamente uma cirurgia para melhora da visão, removendo seu sinal de descrédito (óculos); entre outros, como a fuga, mudança de identidade, de moradia. Todas essas ações deixam marcas que podem ser identificadas e trabalhadas. Não é a toa que o aluno não gosta da escola. Para alguns, esta é um dos piores lugares a se estar.

         4) Quais as consequências que o bullying pode levar para uma criança ou adolescente?

       A mudança da identidade social é a transformação mais devastadora. Quando uma criança ou adolescente é bombardeada por termos que a negativam, acaba por se convencer de que não tem relevância social. As consequências são principalmente distúrbios psicológicos e simbólicos, que no futuro, podem se reverter em físicos. Como foi dito, esse indivíduo constrói teias de relacionamentos de acordo com aquilo em que vive e o influencia. O bullying é um produto de nós mesmos. Portanto, criará déficits simbólicos da importância de se viver que refletirão em piora do aprendizado, distúrbios mentais e motores, e em casos mais sérios, o convencimento de que a vida não tem mais valor ou que não tem valor para vida. Nesse momento, não tão incomum, se vinga de todos que o agrediram invertendo os status de poder. Ocorrem nesse estágio, os assassinatos em massa seguidos de suicídio. Será que a culpa é só de quem atirou?

       5) Como as escolas e os professores de educação física devem agir quando um aluno está sofrendo bullying?

        A primeira etapa a se criar é a de conscientização do Ser social. Para isso, é preciso refletir sobre o diferente, sobre as disparidades que se manifestam nas inúmeras instituições (em termos de Durkheim) do Estado. A escola deve mostrar que o distinto não é maléfico e deve ser respeitado. O grande problema dessa implementação é que a grande maioria dos professores de Educação Física não se atenta a leituras sociológicas e antropológicas, impossibilitando o real conhecimento do fenômeno bullying. É possível ainda, que a escola trabalhe com a detecção. Após a identificação, faz-se importante que o professor não realize a tão comum ação antipedagógica de simplesmente punir o agressor, mas sim, que inicialmente, discuta as causas e reflita sobre o episódio com toda a turma, e se possível, com toda a escola, desde que a mesma esteja preparada profissionalmente para realizar essa exposição. Outra fase seria a da punição. O pior erro que pode existir é a instalação da anomia, que nada mais é do que a ausência de normas. As regras devem ser cumpridas. Quem não as cumpre, deve ser punido. O Brasil é um dos piores países para se viver, justamente pela impunidade. A escola não irá punir de uma maneira simples o agressor, mas sim, de modo em que o estigmatizador sinta que aquilo que promoveu trouxe estragos e precisa ser repensado. Isto deveria ser uma tarefa simples, mas os educadores de hoje só querem fazer o mais fácil, que é se calar e ignorar que o bullying está ocorrendo a frente de seus olhos. Isto poupará trabalho e não trará o medo pelo novo. Infelizmente, essa é a grande verdade, o professor e a escola não sabem lidar com o preconceito e fecham os olhos diante de suas impotências.

         6) Hoje muito se fala sobre bullying, existe solução para esse problema?

        Parcialmente acredito que exista, mesmo não sendo algo tão simples de se aplicar. Na introdução do livro, digo a seguinte frase que irá responder em partes essa pergunta:

        [...] pois busca mostrar que o estigma ou bullying é uma construção social, portanto, passível de ser aprendida ou repreendida no contexto da formação dos grupos, quiçá no âmbito da escola, local de formação de cidadãos. Assim, faz-se necessário que o aluno do curso de Educação Física fique atento para pensar na sua formação como um processo de reflexão visando superar as repetições e as opiniões do senso comum sobre os mais variados temas, inclusive, sobre os diversos preconceitos manifestados através dos jogos da linguagem e dos gestos e que num primeiro momento podem ser meros detalhes. Em se tratando de formação pedagógica e do compromisso social e moral que o professor de Educação Física tem na formação dos alunos, o seu exemplo de conduta deve ser visto como fazendo parte do próprio processo de ensino e de aprendizado, pois será objeto de cópia, de estimulo e de vivência pelos seus futuros alunos, como um modelo de conduta.

        Se assumirmos que o preconceito é uma reprodução social, este é passível de desconstrução. Não existe a tal receita de bolo. De maneira empírica, acredito muito na escola. Se a mesma realizasse o seu papel de formação de cidadão e da construção de um Ser reflexivo, grande parte dos problemas sociais iria diminuir drasticamente.

          Apesar das poucas palavras, espero ter aguçado a vontade pela leitura da temática. Quanto mais pessoas refletindo sobre, mais fácil será o combate a esse mal que destrói tantas vidas pelo mundo.

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