Como citar: 

PERFEITO, Rodrigo Silva. A Educação Física, O Movimento e a Sexualidade. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. 


Matéria Científica: A Educação Física, O Movimento e a Sexualidade

Resumo

Este artigo tem como finalidade demonstrar a importância de uma Educação escolar modernizada e que atraia o interesse do aluno. Uma das ferramentas que possibilitam este ensino diferenciado é o movimento. Estudos mostram que ações pedagógicas através do corpo colaboram para uma melhor compreensão acerca dos acontecimentos da sociedade. Outro aspecto a ser discutido nesta leitura é a questão da sexualidade. Esta é tratada como algo amedrontador e fora de cogitação de um dialogo mais aprofundado em muitas escolas e no ambiente familiar. Cabe ao professor de Educação Física a discussão e reflexão sobre os benefícios da educação do corpo e através do corpo, assim como a ponderação da inserção de assuntos pouco discutidos em sala de aula, como o preconceito e a sexualidade.  

Palavras Chave: Educação Física, jogo, escola, vida social


Abstract

This article aims to demonstrate the importance of a modernized school education and to attract the interest of the student. One of the tools that enable differentiated teaching is the movement. Studies show that educational actions through the body contribute to a better understanding of events in society. Another aspect to be discussed in this reading is the issue of sexuality. This is treated as something scary and out of the question of a dialogue further in many schools and family environment. It is for the physical education teacher discussion and reflection on the benefits of education of the body and through the body, as well as consideration of the inclusion of some topics discussed in class, like prejudice and sexuality.

Keywords: Physical Education, play, school, social life.


        A importância de perceber o corpo e o movimento para construção do saber

Quando pensamos em um país melhor, em cidadãos harmoniosos e honestos, numa sociedade mais justa, numa quase utópica solução para o caos da coletividade moderna, ponderamos a escola como uma das plausíveis ferramentas que possibilitam uma reorganização do aprendizado. Diante desta escola, nos preocupamos com os ensinamentos básicos: saber ler, saber escrever e saber contar. Mesmo que somente esta generalização fosse suficiente, quadros, professores incapacitados e uma grande falta de vontade do Estado em mudar o que é ultrapassado, destroem qualquer possibilidade de Educação através da escola. Diante da falta de estratégias, surge então uma abordagem diferenciada: o aprender a gostar de aprender. Este aprender deve ser diferenciado, atrativo e natural para o aluno. Eis então o professor de Educação Física, que possui uma ferramenta poderosíssima: o movimento do corpo e através do corpo como expressão.
Por se tratar de uma maneira de educar diferente, onde em datas passadas foi marginalizada até mesmo por professores, o movimento e porque não falar a Educação Física de uma maneira geral, não é levada a sério pela escola e principalmente pelo Estado. Segundo Bibiano (2010) as leis atrapalham o ensino através do movimento. A Educação Física é facultativa para quem está trabalhando e estudando concomitantemente, para quem tem idade acima de 30 anos e/ou possui filhos e oferecida em diversas escolas fora do horário regido para as outras disciplinas. Isto atrapalha a apresentação da educação através das expressões corporais aos alunos. Tudo aquilo que não se conhece, não se gosta.
       Estas leis foram fundamentadas na falta de reconhecimento da importância da Educação Física no Brasil. Ao indagar a escola da possibilidade de isentar seus alunos das disciplinas como: matemática, português, biologia, teremos a resposta negativa, já que para o Estado, estas e talvez só estas, são muito importantes. Pensando-se assim, os professores de Educação Física são destituídos de respeito, já que na visão micro de um governo pobre, só ensinamos a jogar futebol e handebol. Atualmente, com a crescente esportiva, estamos passando por uma revolução educacional onde o professor de Educação Física está concretizando sua importância na Sociedade como um construtor de informações positivas. Não podemos simplesmente pensar no movimento como algo voltado à prevenção ou promoção da Saúde. Para isso, Bibiano (2010) diz que os professores de Educação Física devem atuar expondo seu potencial, mostrando sua intenção e seu embasamento teórico-científico aprendido em cursos de graduação e aperfeiçoamento, fornecendo assim, ferramentas tecnológicas e educacionais que possibilitem a reflexão e ressignificação da importância do movimento em sua construção acadêmica e social. 
      Situando o ensino como uma continuidade, devemos avançar nossas reflexões para o âmbito universitário e o ensino médio ou fundamental para alunos com mais de 30 anos ou jovens sem oportunidades. Para isso, é preciso conhecer um programa de ensino que cresce em sua importância ao longo dos anos: a Educação de Jovens e Adultos (EJA). A EJA é uma iniciativa da rede pública brasileira que busca ceder uma maneira de englobar aqueles que não tiveram oportunidades de cursar o ensino médio ou fundamental quando jovens. Existem diversos estudos e financiamentos envolvidos nesta iniciativa. Um dos grandes órgãos brasileiros presentes é a Coordenação Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Esta iniciativa possibilitou que indivíduos que não tiveram oportunidade de alfabetização voltassem a sonhar com uma vida melhor diante da possibilidade do estudo. Segundo Bibiano (2010) a EJA trabalha de forma exemplar com o movimento. Nas aulas de Educação Física, os alunos observam e estudam o repertório gestual presente no cotidiano de cada aluno, possibilitando perceber diferentes culturas do movimento e o que estas informações podem dizer. Uma das atividades propostas foi a dança pensada. O repertorio produzido era refletido e experimentado de modo a reviver experiências passadas e futuras a fim de conjeturar sobre as possibilidades do corpo atreladas a Educação. O programa se destaca pelo cuidado em não deixar ninguém de fora, vide que o que está em jogo não é a habilidade de cada um, mas sim o que cada um deseja expressar.


      A sexualidade na escola e na sociedade

     O corpo, as mídias, o Homem e o ambiente social e cultural estão intimamente ligados no que diz respeito à sexualidade e Educação. Os alunos, dentro e fora das escolas, estão cada vez mais estudando e buscando alternativas que possibilitem entender o significado dos gestos corporais e como podemos dizer algo através dele. Este modo de agir dos jovens alunos evolui de maneira rápida, produzindo assim indivíduos cada vez mais ousados. Estes atos arrojados nem sempre são acompanhados e entendidos pela escola e pela sociedade.
      Segundo Martins (2010), no ano de 2009 jovens estudantes da cidade de São Paulo inventaram uma nova moda. Passaram a circular dentro e fora das escolas com pulseiras coloridas de diferentes significados. No início, todos na escola e os próprios familiares pensavam que estes acessórios eram apenas efeito de uma moda passageira. No entanto, se tratava de um jogo sexual. Cada cor ou estilo significava uma ação mais ou menos insinuante sexualmente falando. Se um menino ou uma menina arrebentasse a pulseira amarela, este receberia um abraço; caso a pulseira fosse roxa, um beijo de língua; na cor preta, carícias e sexo; já na cor transparente, tudo o que quisesse fazer.
Quando os pais e a escola descobriram o significado das pulseiras, simplesmente proibiram o seu uso, desperdiçando a oportunidade de conversar sobre este tema que é tão importante. Martins (2010) diz que é necessário que toda a sociedade que envolve estes jovens compreenda que nesta determinada faixa etária ocorre a puberdade, traduzindo episódios de construção da sexualidade do aluno, o que pode deixá-lo confuso.
      Ao nascermos, experimentamos o prazer ao tocar e experimentar partes do nosso corpo. As crianças colocam objetos na boca, pois é através desta que reconhecem e sentem prazer. O mesmo ao evacuar. Os bebes não defecam somente por uma questão fisiológica, mas também porque sentem o prazer através do ânus ao realizar esta manobra. Desta forma, quando crianças, experimentamos o prazer e a descoberta pelo próprio corpo. Na adolescência, a necessidade de achados sexuais se aflora com a puberdade. Existe ainda a necessidade de perceber a si mesmo e ao outro. Deixamos então, nesta fase, a nos contentar em descobrir apenas com nossos corpos e passamos a deter a necessidade de desvendar outros aspectos através do corpo do outro. Esta transformação assusta adolescentes que não tem um auxílio da escola, vide que suas transformações corporais e sexuais avançam muito mais rápido do que as mentais e psicológicas. Por isso, Martins (2010) descreve a necessidade do professor se atentar a comportamentos e discorrer sobre o assunto de forma aberta e em formato de diálogos francos, explicando as transformações provocadas pela puberdade.
     Tais transformações, como: crescimento de seios, glúteos, pênis e pelos faciais e genitais, podem atormentar e incomodar adolescentes sem informação, como podemos ver a seguir em um relato do aluno André: 

Às vezes, eu não tenho controle mesmo e a barraca arma. Acontece à noite e também de manhã. Ando acordando mais cedo para ver se passa porque minha mãe já viu duas vezes, mó bad. Queria que armasse só quando eu quisesse (MARTINS, 2010, p. 93).

      Ações específicas são características desta fase, como por exemplo, a de não moderar em suas ações e refletir somente após o ato e não durante. Tal fato, quando não conversado, é um dos indicativos para o aumento de casos de gravidez não planejada, de mortes, pequenos furtos, uso de drogas, entre outros.
      Além disto, neste período, os adolescentes estão assumindo sua preferência sexual. Para que algo seja escolhido é preciso que se experimente. Assim, meninos e meninas buscam descobertas através de carícias, beijos e sexo com indivíduos do próprio sexo e de opostos. Numa sociedade pautada em preconceitos, estes atos são recriminados, fazendo com que os alunos os façam escondidos, quando o melhor seria o diálogo e ajuda com orientações e reflexões do tema por parte da família e da escola. 
    Segundo o psicanalista Tiago Corbisier Matheus em entrevista para a Revista Nova Escola de Junho/Julho de 2010, existe uma moda onde tanto meninas como meninos beijam sem propósito sentimental alguns indivíduos do mesmo sexo ou de sexo distinto. Nesses casos, a sociedade deve tentar perceber se este experimento advém de uma necessidade de se autoconhecer ou apenas para satisfazer as vontades ou o ego do grupo em que convive. Cita ainda, que existe o caso dos jovens que não permitem uma relação de intimidade com o outro, o que pode afetar num futuro, o amadurecimento de sua sexualidade. Isto é muito comum entre os jovens estudantes, como podemos ver a seguir:
Já fiquei com menino e com menina. Eu gosto, é bom pra curtir a vida. Não me apego a ninguém porque beijar na boca de uma pessoa só é muito chato. Meus amigos ficam com uma pá de meninos e meninas também. Se não fizer isso agora, vou fazer quando? (MARTINS, 2010, p. 95).

     Assumir a preferência sexual é algo que exige muito preparo, vide que gostar do mesmo sexo, por exemplo, não é uma questão que envolve apenas suas vontades. Existe todo um arsenal de pensamentos negativos, agressões físicas e morais por parte daqueles que não aceitam a diversidade sexual. Este preconceito está presente em toda sociedade e traz conseqüências drásticas para quem o sofre. A própria cultura, aspectos e local social afetam na intensidade do preconceito sofrido. Abaixo temos outro exemplo de preconceito, o referente aos gêneros:

Fui à farmácia porque queria comprar camisinha e demorei 10 minutos para ter coragem de pegar. Sinto vergonha por ser menina, as pessoas me olharam mó esquisito. Parecia que eu era uma galinha. É mais fácil para um menino. Fico sem saber como agir (MARTINS, 2010, p. 94).

      Martins (2010) diz que não adianta dizer aos jovens que estes devem usar camisinha, que não devem atribuir aspectos negativos a sexualidade do outro, se a escola e a família não ajudam estes jovens a refletir sobre toda a diversidade sexual e seus direitos de escolha. Diferentes estudos mostram que os jovens sabem que devem usar preservativos. Portanto, não é importante repetir o que podem ou não fazer, se não existe reflexão sobre todo um contexto social que é pautado em preconceitos e falta de informação.


      Referências

BARONI, Marcelo; VENDITTI, Rubens Junior. Abordagem do conteúdo sexualidade nas aulas de educação física escolar no ensino médio: estratégias e propostas. Revista EFDesportes, Buenos Aires, Ano 14, n. 131, Abril de 2009.


BIBIANO, Bianca. Olhar para o corpo. Revista Nova Escola, Brasil, Ano xxv, n. 233, Junho/Julho de 2010.


BRASIL. Alunos e alunas da EJA. Ministério da Educação. Brasília, 2006.


CHIMITI, Dayenne Karoline. et al. A Educação Física e a sexualidade nos parâmetros curriculares nacionais: conservadorismo e normatização sexual. Revista EFDesportes, Buenos Aires, Ano 12, n. 113, Outubro de 2007.


FOUCAULT, M. História da sexualidade: à vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1997.


MARTINS, Ana Rita. Com os hormônios a flor da pele. Revista Nova Escola, Brasil, Ano xxv, n. 233, Junho/Julho de 2010.


PERFEITO, Rodrigo Silva. A Educação Física e o Bullying: a desUtilização da inteligência. Rio de Janeiro: Livre Expressão, 2011.


SCHNAIDLER, Rolando. La expresión del cuerpo en movimiento. Experiencias con la danza en la ciudad de Neuquén. Revista EFDesportes, Buenos Aires, Ano 13, n. 121, Junho de 2008.




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